sábado, 31 de julho de 2010

5 minutos

Tenho 5 minutos. Que podem ser 10 ou 15. Ou menos que 5.

Acabei de descobrir uma banda em meio às suas música (mas por que diabos eu insisto em me dirigir a você como se você me escutasse é que eu não entendo. talvez escute. dentro de mim tem você e esse você me escuta. sim, entendi.). Pois, a banda. É uma mistura de Radio Dept. com Nouvelle Vague e Velvet Underground, talvez. Eu e essa mania engraçada de ficar familiarizando coisas que eu desconheço. Buscando a familiaridade no não-visto. Conforto? É, acho que é. Mas a banda é legal. Você sempre ouviu coisas legais. Mais do que isso, você também sempre disse coisas muito legais em meio às bobagens que todos dizem. Era só saber ler nas entrelinhas. Só que fica difícil ler nas entrelinhas hipnotizado por cachinhos negros, olhos-mel-grandes-caídosnoscantos-e-cilhosgrandes e essa boca. Sabe o mais engraçado? Eu nem vi sua boca dessa vez. Só vi os olhos. E todo mundo olha pra sua boca e esquece dos olhos. Olha que todo mundo que te acha lindo fala só da sua boca, muitos falavam dos cachinhos também, mas te digo que ninguém nunca prestou atenção nesses olhos como eu.

Então, a banda chama The Wake. O cd que tem aqui é de 2002. Ouvindo mais músicas já consigo achar um pouco de Bishop Allen também e talvez até de Polyphonic Spree. E hoje eu penso no quanto perdi tempo ouvindo as mesmas coisas sendo que eu tinha um acervo inteiro seu aqui de coisas ótimas. Na verdade já parou pra pensar que o nosso acervo tem mesmo umas coisas ótimas? Tanto o seu como o meu quanto o nosso? Tem sim... Pena que eu não pensei no acervo quando te vi aquele dia. Eu perguntava as coisas por perguntar mas olhava fundo nos seus olhos e você, esfinge, tentando esconder eles de mim com medo de me entregar alguma coisa... Solidão? Saudade? Esquecimento? Tristeza? Vergonha? Te juro, não consegui te decifrar. Ainda vi você fantasma como nos últimos tempos. Doeu.......... Tanto. Você nem imagina. Pra não dizer que não percebi nada em você, eu te percebi lindo (como sempre) e com medo. Do que eu não sei. Julgo ser de mim antiga, do seu fantasma de mim (assim como você hoje é um fantasma pra mim, por que não eu ser um fantasma pra você?), medo de mim barraqueira, escandalosa, sangue de baixada, que não sabe perder... Medo de eu encher aquela menina do piercing de porrada e sangrar ela até a morte na frente do seu espetáculo todo, do seu espetáculo de todo domingo... Mas não. Se você também não soube ou não quis perceber nada em mim, eu estava como um bicho. Acuada, com medo. Uma criança com medo de um fantasma que a atormenta todos os dias. Com medo mas ainda com aquela curiosidade infantil de saber do que é feito o fantasma, se ele é feito da mesma matéria dos sonhos... E eu acho que foi isso o que descobri. Fantasmas e sonhos são feitos da mesma coisa. E existem (isso é o mais engraçado), e vivem, e andam, e comem, e bebem, e dirigem, e fodem, e sonham, e trabalham, dormem, acordam, etc etc etc... Mesmo que seja só na nossa cabeça.

Meus 5 minutos já são quase meia hora e quase um cd inteiro desses tais de The Wakes. Como tudo que tem aqui de música que eu herdei de você, parece uma trilha sonora do que você representa. Do que te torna fantasma pra mim. Sonho, blues, um pouco de eletrônico, uma voz feminina e uma masculina que se completam, um pedacinho de você aqui sentado comigo, me olhando, como você um dia costumou me olhar.

Fim do CD. Fim dos 5 minutos.