sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Feliz Aniversário...

Olá...

Um feliz aniversário pra você...

Acabei de lhe escrever um e-mail politicamente correto, curto (para os meus padrões) e com o suficiente para lhe dizer... Talvez não o suficiente para mim. Há meses que me consome essa ideia de ter que lhe escrever algo no seu aniversário e mais do que isso, me consome a idéia de que realmente eu não sei o que lhe dizer mesmo sendo essa uma oportunidade única de lhe dizer alguma coisa. Acho que isso já seria o bastante pra me causar essa pressão, essa obrigação de lhe dizer alguma coisa, principalmente não sabendo o que lhe dizer. Olha, hoje é dia 13 e eu já estou aqui perdendo o meu tempo escrevendo algo pro dia 17, quando é mesmo a data do seu aniversário. Então pense o que isso significa.

E sinceramente, acho que só saberei o que lhe dizer no dia 17 mesmo. Ou nem isso. É provável que eu nunca saiba o que lhe dizer nunca mais, assim como nunca soube. Assim como lhe disse o que não era pra ser dito, nem pensado, nem sentido. Mas senti, pensei e, o pior, disse. Coisas das quais me arrependo amargamente de terem tornado reais a partir da minha fala insana a seu respeito, quando o que eu mais queria era seguir ao seu lado e simplesmente suportar o fardo de ter um homem tão maravilhoso e perfeito, o que eu, claro, não soube fazer. E dói, ah, R... Como dói hoje não ter suportado o fardo pesado de um homem lindo (em todos os sentidos) ao meu lado, como ousei te ter se não tinha culhões para lhe sustentar. Exatamente essa é a minha dor e o meu arrependimento.

Então hoje, dias antes do seu aniversário de 25 anos, dias antes de você atingir um patamar tão importante como esse, cá estou aqui e você, aí. Cá estamos nós em mundos completamente diferentes e seguindo nossos caminhos, fingindo que cada um de nós dois nunca existiu para cada um. Eu, lutando bravamente para te manter em meio às minhas lembranças empoeiradas que se resumem hoje a músicas, algumas camisetas, filmes e pretensões de coisas que eu suponho que você gostaria. Você talvez lutando contra as mesmas memórias, mas ao contrário, para esquecê-las e continuar vivendo uma vida como se eu nunca tivesse feito parte dela.

Que você tenha um feliz aniversário e uma feliz vida. É o que lhe desejo, mesmo não sabendo bem o que isso significa.

domingo, 1 de agosto de 2010

Mais sobre uma vida que não é a minha

Eu agüentei uma noite inteira de Smiths. No epicentro da felicidade enlatada eu consegui agüentar a discografia inteira dos Smiths. Eu achei que estava segura no meio de todo mundo pronto, todos os casaizinhos pré-fabricados, modelos, casamentos perfeitos, mulheres de um homem só. Meninas para um lado, meninos para o outro. E meninas fumantes, onde ficam? Mulheres que acham que são meninas, que se escondem atrás de um cabelo loiro e um relógio da Diesel e que botam um sorriso no rosto enquanto os Smiths insistem em trazer um passado para aquele lugar que não lhe cabe... Pra onde é que elas vão? Pro inferno. Pra um inferno chamado Memória. Sim, é lá que elas se escondem. Ela. Todo seu lápis de olho, seu perfume comprado na Argentina, sua bolsa da Puma, sua escova no cabelo e seu piercing do nariz não são suficientes pra se impor em meio à felicidade enlatada. Não bastam pra que ela se contamine por aquilo tudo, pela perfeição fake dos casaizinhos perfeitos. Maridos que tomam vinho e arrotam arrogância em meio daquele monte de machos, muito machos, que se escondem atrás de sua taça e seu trabalho maçante e imbecil, mas muito bem remunerado, obrigado. Mulheres que fingem que bebem, bebericam espumantes enquanto conversam sobre filhos, falta de vontade de fazer sexo com os maridos mesmo sendo muito bem casadas e os amando muito, claro, e fantasias com estranhos inteligentes, bonitos e que lhes dão o mínimo de atenção. O reino perfeito da hipocrisia.

– Me conta como é...
– Como é o que?
– Você sabe, você é a única de nós que sabe...
– Sabe o que, meu Deus?
– Como é ter outro homem...
– Ah...

E no som começam uns acordes de guitarra familiares, de pouco tempo, mas que são suficientes pra destruir a máscara que ela custou a vestir pra poder estar a ali. “Good time for a change...” Socorro. Nem são os Smiths mais, eu venci a discografia inteira!... Onde diabos arrumaram uma versão dessa música... Socorro. A máscara cai antes da resposta da pergunta. É de papel, molhou com as lágrimas que insistem em brotar naquela simulação de paraíso. E se desfez...

– Ai, amiga... Ta chorando? Que foi?
– É a música.
– Que música é essa, gente, não sei quem ta cantando isso...
– Nem eu, sei que é uma música dos Smiths...
– Ai, amiga, não fica assim...

E o marido se aproxima.
– Amor, tomei sua água toda. Pega outra pra mim? (virando o rosto já borrado do lápis de olho que escorreu com as lágrimas vindas do inferno) E ele se afasta.

– Então, quer mesmo saber?
– O que, amiga?
– Como é?
– É o que?
– Ter tido outro homem...
– Ah...
– É assim.