segunda-feira, 21 de junho de 2010

Socorro! Eu quero uma vida que não seja a minha!

Felicidade inventada em Paris. Inventada não, pronta. Enlatada, pré-fabricada, como tudo mais parece por aqui. "Oi, como você tá? Tá Paris? Tá bem. Tá ótima. Estar em Paris ajuda." Ah, ajuda. Ajuda pra todo mundo mas, infelizmente, eu não sou todo mundo. Quisera ser. Nem melhor, nem pior por isso. Só não sou. E estar em Paris não ajuda não. Só piora.

É como num filme. Tudo. As luzes, os cheiros, o clima, o tom, as músicas... Toca jazz num taxi, Velvet Underground no supermercado e olha, até La vie en rose eu já ouvi numa rua cheia de gente louca e bêbada, e na versão que eu queria. Toca Lily Allen num café ao lado do museu que desisti de entrar pela fila gigantesca. Café cheio de turistas, comida francesa pra turista, fila do museu ao lado, todo mundo fingindo estar gostando daquela porcaria, todos mortos de cansaço e comendo aquela comidinha mais ou menos, gordurosa, ou aquela porra de água salgada da torneira ou suco com gosto de pirulito ou vinho ruim - mas francês, oui - ou coca-cola pra quem tem peito de encarar coca-cola em Paris. E a Lily Allen tocando 22 no diabo do café. E a felicidade em conserva, pronta para consumo ali, diante de mim. E eu olhei pra tudo aquilo e me senti no filme certo mas com os personagens errados. E me senti extremamente só e idiota diante do mundo.

Quem sou eu, o que eu tô fazendo aqui, caralho. Eu não tenho mais 22 e não nasci pra consumir felicidade enlatada. Eu achava que a vida era isso aqui, que estar em Paris resolveria todos os problemas do mundo. E hoje eu vejo - com muito mais que 22 - que vida pra mim não é esse café, nem o museu, nem essas ruas e prédios lindos, nem nada disso. A vida era uma pousada em Tiradentes com vagões de trem e festival de cinema. Era pintar um apartamento, cansar num terço do caminho e chamar um pintor pra terminar. Era acabar de assistir Marley e Eu e ver dois bobos com os olhos inchados de tanto chorar rindo na frente do espelho do banheiro. Era um quarto cheio de roupas pelo chão, uma cama enorme, biscoito recheado e nescau, e um computador com uma playlist de dar inveja a meio mundo. Isso pra mim era vida e eu não posso nem dizer que não sabia. Só sei que Paris, mesmo entupida de anti-depressivo, não é vida pra mim.

Aí é o seguinte: ou eu encaro a felicidade pronta ou eu continuo vivendo como uma morta-viva, como tem sido isso que posso chamar de vida pós-vida. Sobrevida, que seja. Aí eu choro no café e peço desculpas depois, dizendo que o que me assusta e me faz chorar é não ter mais 22...

domingo, 13 de junho de 2010

Eu escuto nossas músicas, eu tento me lembrar de cada detalhe seu, eu me sinto triste... mas não choro mais. Será que minhas lágrimas secaram? Não, eu não deixei de te amar. Talvez o amor tenha mudado. Acho que agora é um amor conformado com o fim, com a distância e com a indiferença. Possível? Não sei. Sei que é assim que me sinto com relação a tudo isso. E afinal de contas... o que é tudo isso? O que é tudo? O que foi tudo?
Vez em quando me pego pensando se não foi tudo um sonho... Foram tantas coisas vividas, tantos momentos... agora reduzidos à isso: músicas, filmes, e-mails, fotos. Tudo representações de algo que não mais existe. Não da forma como existiu um dia. Existiu? Às vezes até isso eu me pergunto. Parece tudo tão próximo e tão distante ao mesmo tempo... É uma confusão de sentimentos e pensamentos e lembranças que fica difícil distinguir o que é cada coisa. E aí fica essa vontade de escrever, de fumar todos os cigarros, de beber todas as bebidas, de ouvir todas as músicas pra ver se você volta de alguma forma. Porque de alguma forma eu não quero esse afastamento. Eu te quero ainda perto de mim. Mesmo que seja assim, perto só do meu coração. Mesmo que seja só eu a te manter por perto. Quero você sentado aqui do meu lado, mesmo assim, em palavras. Mesmo te vendo sentado aqui pelas palavras. Quero te fazer presente na minha vida, independente de qualquer coisa. Ainda.
Outro dia mesmo ouvi essa música relendo seus e-mails, revendo suas fotos e chorei como nunca. Com uma dor no coração quase física. Quase não, física. Mesmo. E hoje eu escuto a música e não sinto mais o que senti. Ainda aperta a tristeza, mas de uma forma longínqua, miragem quase... chega a ser doce. Deve ser porque junto dessa tristeza tem um felicidade maior que ela. Uma felicidade minha, construída com cuidado, precisa. E você passou a ser impreciso, borrado, fantasma... Assim como essa música. Ela me desperta algo que eu não sei explicar. Mesmo que eu queira colocar aqui em palavras. Deve ser porque elas sempre serão poucas pra definir o sentido. Sempre poucas. Por mais que eu as busque. Assim como, por mais que eu te busque, sempre será pouco sem você presente na minha vida.
Eu me recuso a te esquecer. Até quando? Não sei.
Fico me perguntando o que acontece comigo quando eu me vejo reabrindo as feridas já cicatrizadas que você deixou no meu coração. Elas começam a fechar, pelo lado de fora aparentemente são só cicatrizes, mas parece que faço questão de, periodicamente, rasgá-las novamente. Talvez pela dor que me causam; talvez porque a dor me aproxima de você. Talvez - na verdade, muito provavelmente - seja o jeito que eu arrumei de não me esquecer de você e do que você significa pra mim. Agora eu me pergunto o que é que me prende à você além das lembranças... Porque eu não tenho mais nada. Nada mais que seja nosso a não ser isso: lembranças. E dói esquecer. Dói você acordar depois de um sonho em que você confunde rostos porque a memória já lhe falha. É dolorido você tentar refazer alguns detalhes de pequenas coisas - pequenas preciosidades - vividas, que você queria guardar no lugar mais querido e especial do seu coração e de repente já não se recordar mais de alguns deles. Ver as lembranças se esvaindo a cada dia, como areia numa ampulheta, te consome aos poucos, por mais que seja melhor assim pra continuar vivendo. Dói ir te substituindo por melhores coisas, mesmo que elas nem sejam na verdade melhores, porque no fundo, por pior que fosse o sofrimento que você teve um dia, você achou que aquelas seriam suas melhores lembranças. Mais do que isso: você quis, como nunca, que aquelas fossem suas melhores lembranças. Você quis insuportavelmente que aquilo fosse o melhor que você já viveu, sentiu... Você acreditou que aquilo seria único, especial e eterno. E é essa a constatação que dói mais. A do fim. E esquecer é um pouco isso. É se aproximar do fim, involuntariamente. E mesmo doendo, já dói menos. E talvez seja pior do que quando doía mais.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Estou feliz. Como há tempos não me sentia assim. Com isso espero um post mais doce, mais calmo e sereno. É tão estranho te amar assim... Sem possibilidades, sem o mínimo de alimento e com o máximo de esperança. Ora, não me pergunte do quê a esperança. De um dia deixar de te amar? De por acaso voltarmos a nos encontrar um dia e reacender em você a chama que em mim não se apagou? Ou simplesmente de canalizar todo esse amor pra mim mesma ou pra alguém que torne ele possível ao invés de inviável? Sinceramente, não sei. Sei que em mim existe hoje uma coisa chamada felicidade e ela veio gratuita. Você em nada colaborou nos últimos tempos para que ela brotasse aqui, mas... cá está! Insistente, vibrante, pura... Genuína. Cá está. Ora! Quem diria?! Eu, nunca. Achei que amargaria esse amor shakespeareano pelo resto dos meus dias, realmente amargurada. E cá estou. Quase 4 mil quilômetros de distância, 4 meses de silêncio e incontáveis tentativas de tirar sua presença invisível do meu ser e dos meus poros e então... a felicidade. E olha, isso não significa que eu não te ame mais. Ou que te ame menos. É só o tempo fazendo seu papel. O seu lugar continua aqui mas isso pra mim não é mais sinônimo de tristeza, mágoa e pesar. Você ainda é o que de mais bonito tive - e talvez sempre há de ser - até que minha memória me traia, até que eu esqueça quem você é assim como você parece fazer questão de esquecer o mesmo. O que, no fundo, não importa. Tirando o que você significa pra mim, me importa apenas a minha ilusão e desejo de você estar bem. Talvez tão bem quanto eu. Ou melhor. Mesmo no silêncio você ainda faz parte das minhas preces. Sim, eu ainda rezo. Sim, eu ainda acredito em Deus e em tudo aquilo que você também me dizia acreditar. Engraçado como você me ensinou tanto isso e parece ter esquecido os mesmos ensinamentos... Estranho como a vida dá esse tipo de volta, e outras mais. Curioso as voltas que ela dá. E cá estamos. Em pontos diferentes do mundo, ouvindo as mesmas músicas muitas vezes, convivendo com as mesmas pessoas que já fizeram parte da nossa história - outras novas -, construindo uma realidade nova e diferente a cada dia, esquecendo um pouco mais, lembrando um pouco menos. Cá estamos. Ainda sem nos esquecer em definitivo e cada um fazendo com suas lembranças aquilo que bem entendemos.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Escrevo pra mim. Foi-se a ilusão de que escrevia por você, ou por alguém. É por mim que escrevo.
Escrevo pra afastar a solidão, escrevo pra me sentir mais próxima - de ti ou de quem está longe, como estás-, escrevo. Escrevo por não haver outro modo, por não haver música ou filme que me aproximem de quem ou o que sinto falta. Escrevo.
Palavra feia, como todas as outras que aqui estão escritas, ou não... Escrevo. Como um pássaro sem rumo, paloma negra que sempre fui (Marcelo. Obrigada mais uma vez por me descrever. E escrever. Mesmo que não seja eu. Mesmo que seja você ou a solidão.). Escrevo...
Deixo reticências, para que elas mesmas se preencham com o vazio de sua falta ou da falta que quero que haja por você não estar aqui. Escrevo melhor bêbada, ou semi-bêbada, que seja, melhor que sóbria nas minhas mentiras e verdades. Melhor que na minha realidade.
Nas palavras sou mais bonita, sou maior e mais rica. Mais densa, profunda, que na vida. Sou o que há de melhor, assim como você, ateu, incrédulo, mesmo depois de tanta fé. Mesmo depois de tanta vida há a morte. Minha, sua, eterna e vazia. Que as palavras preenchem e eternizam.
Há o buraco que quero preencher. E só me restam as palavras agora. Now.
De você, só me resta o que eu quero e o que eu sei, mesmo que não saiba nada... Mesmo que só saiba o que sinto. Mesmo que você não saiba e não viva o que eu considero vida. Você vive. Assim como eu. Assim como as palavras. Vivemos uma vida que não é nossa. Vivemos uma realidade que não é a que sonhamos nem quisemos; somente uma realidade de vida vivida vazia. Mesmo que ela esteja preenchida de coisas, nomes, sons, amores, vergonhas, passos, tropeços. Esta não é a nossa vida. E nunca vai ser. Sem perguntas dessa vez, somente respostas. Afirmações. E reticências, como sempre. Esquivas. Esquinas. Um grito de um pássaro. Uma noite perdida, outra ganha. Nada em vão, tudo em nada. Uma vida vivida, outra vida. Outro dia. Outra morte. E escrevo.