sexta-feira, 20 de julho de 2012

"Minha vida"

Tem coisa mais linda no universo do que ser chamada de "princesa" por um príncipe digno dos contos de fadas que você ouvia quando era criança? Tem sim e é o ápice da entrega, que eu sempre tanto busquei por toda a minha vida: exatamente ser chamada de "minha vida" por esse príncipe. Pelo seu escolhido. Pelo alvo de todo aquele turbilhão que transformou a sua vida em... vida. É o ápice dos clichês também; as próprias paixões são as encarnações dos clichês, as personificações e materializações mór deles. Mas "minha vida" é a coisa mais forte de que já chamei alguém e fui chamada. E eu sei que havia verdade naquelas palavras quando ditas (de ambos os lados) porque vida como aquela eu nunca havia tido antes e, acredito, nunca mais vou ter. Chamar alguém "Minha vida" é significar o tudo pro outro, todo o sentido, toda a função de existir, e é colocar tudo isso nas mãos do outro. É colocar a própria cabeça numa bandeja de prata. É servir para o outro o  próprio coração com garfo e faca, é verter todo o seu sangue numa imensa taça, de canudinho e tudo. É uma declaração assinada de "olha, sou irremediavelmente, irrefutavelmente, incorrigivelmente seu". E eu posso garantir: isso não tem volta. Se você chamar ou se deixar chamar assim por outra pessoa, já era. Queira Deus que você continue com esse alguém porque senão isso vai lhe doer os ouvidos toda vez que for dito. Primeiro que você não consegue mais dizer isso pra ninguém (pelo menos eu não) sem parecer a coisa mais cafona e falsa desse mundo (e por aí já se percebe que isso eu não digo mais). Segundo que cada vez que você escutar isso, vai doer lá no fundo do seu coração e vai te dar um medo imenso do peso que isso tem, principalmente porque você já sabe que uma coisa dessas geralmente não é dita se não for verdade. Não que você não possa vir a amar novamente. Não porque aquela pessoa cuja boca proferiu essas duas palavrinhas não seja digna de ser a vida de alguém... mas é que você sabe. No fundo você já sabe que a "sua vida" foi (é?) de outra pessoa. E não poderá pertencer a mais ninguém.
De vez em quando eu caio na "sessão tortura", que é como eu chamo minhas recaídas de rever e-mails antigos e afins, e o que era pra ser trágico se torna até meio cômico. Eu entro num outro mundo, parece que foi em outra vida que eu vivi aquilo tudo com você. Eu sorrio, me emociono, me sinto a pior das criaturas, me sinto privilegiada por ter tido a oportunidade de vivenciar uma paixão tão bonita, tão autenticamente "paixão", no sentido shakespeariano da palavra, sabe? Entro nessa montanha russa de sentimentos quando, de repente, eu volto pro que eu estava fazendo, com medo de "ser pega" (ou de me "contaminar" outra vez com tanta paixão... Será que pega de olhar?), e me vejo com 29 anos lendo artigos de medicina sobre nódulos Schmörl. E eu não faço medicina. É de rir pra não chorar.