quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

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Nossas vidas continuam a caminhar. Paralelas. Assim como na música do Engenheiros... Outro dia fui almoçar e o DVD deles tocava. Eu comia meu sashimi e pensava em você enquanto olhava aquele homem louro cantar. E por falar nisso, em caminhar e em Engenheiros, vi sua carinha de felicidade pela foto ao apresentar seu trabalho final. Até que enfim, engenheiro. Mesmo paralela, fiquei feliz em te ver feliz. Será que isso é amor? Será que só agora eu te amo? Ironia de sempre dessa vida maluca que a gente vive. Tenho orgulho de você. Já te disse isso? Pois fica dito. Mesmo que pra mim mesma, fica dito. Você sempre batalhou pelas suas coisas e você vai ser muito, muito feliz. Assim como na foto. Você na verdade já é. Espero que saiba disso. Espero um dia poder lhe dizer isso. Eu te acompanho. De longe, paralela, mas acompanho. E não é só porque eu queria fazer parte da sua vida. É porque você faz parte da minha. Mesmo assim, paralelo. Poesia triste transformada em vida e linda porque é vida. Eu te amo. Assim, paralela.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Me perdoa, meu amor. Ainda existe poesia em seus olhos... Em meio a tanto sofrimento, em meio a tantos sonhos despedaçados e solidão você ainda foi capaz de enxergar beleza no mundo. Me perdoa por ter te perdido. Me perdoa por ter me tornado o monstro que te afastou de mim. Me perdoa, pois só assim eu poderei me perdoar um dia. Perdoa esse corpo que foi se deformando, essa mente que foi se pervertendo e esses olhos que se cegaram de ciúme, insegurança e tristeza diante da vida e do amor que você me ofereceu. Perdoa esse medo que eu carrego há tantos anos, esse buraco enorme que vai me ruindo por dentro e me deixando oca, oca, oca... Perdoa a minha família, que eu permiti que fosse mais importante em vários momentos do que o amor que falava mais forte dentro de mim. Perdoa os dias de sol que perdemos e as noites de lua cheia, em meio a tantas discussões, lágrimas e palavras duras que nunca deveriam ter sido ditas. Perdoa todos os beijos que eu não te dei por bobagem e criancice. Perdoa tudo aquilo que te era querido e eu tirei de você ou destruí. Perdoa os anos que você perdeu ao lado de uma menina boba que não queria crescer. Os chiliques histéricos, as cenas de ciúme, as humilhações, as desconfianças, as mágoas, as fraquezas... Sei que eu te machuquei como ninguém, te ofendi como ninguém, te decepcionei como ninguém, mas também sei e garanto, que te amei como ninguém até hoje te amou. Perdoa... Sei que não tenho esse direito diante do mal que lhe causei, mas o perdão é um sentimento nobre e transcendente, até meio divino. E eu preciso desse sentimento pra viver. Perdoa você, porque eu não consigo me perdoar.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Só dói.

‎"- Por que é que você me pede tanta aspirina? (... )
- É para eu não me doer tanto!
- Você se dói?
- Eu me dôo o tempo todo
- Aonde?
- Dentro, não sei explicar."

Clarice Lispector, em A hora da estrela.

Véspera

Sentei-me aqui pra escrever sobre o que não cabe em mim. Hoje é o último dia de um ciclo que quero/tenho/vou deixar para trás. E que, ao mesmo tempo, insisto em não querer deixar partir. Hoje é a véspera de uma nova fase. Amanhã deixo de ser "aquela menina" para virar "aquela mulher". Já me chamaram outro dia de senhora, acredita? Me assustei, e detestei. É só a constatação de que não sou mais o que eu sempre até então acreditei ser: uma menina. Uma adolescente sonhadora, cheia de vida e de sonhos, de esperanças e temores. E agora, o que serei? Uma mulher? Isso rompe com tudo o que cri até aqui. De 27 para 28. Mais um ciclo de 7 anos, os tão temíveis 7 anos. Já não cabe mais nessa vida meus dramas infantis, minhas paixões platônicas, sonhar ouvindo música, esperar o príncipe encantado, conhecê-lo, perdê-lo... Cabe uma vida sem grandes expectativas. Cabe uma falta de significado e sentido sem precedentes, dignas de uma mulher, adulta. Não cabe mais não pensar no amanhã, não predizer o futuro, não criar metas e objetivos e não atingí-los. Cabe uma vida nesses 27 anos para trás, cabem várias e várias e várias... Mas é uma vida que não cabe mais nos 28. Estou de mudança e não sei por onde começar. Não sei mais o que guardar, se é que guardo. Às vezes acho que escondo de mim mesma e adoro esse sofrimento de cavar as coisas... De escavar. De escavucar. De desenterrar periodicamente o meu passado em meio a papéis, recibos, notas, cartões postais, adesivos, fotos... Foi isso o que me construiu até então. E isso não significa nada porque o passado não é nada. Só eu não me dou conta disso. Com o passado eu não faço nada. Ele não volta. Ele não se mexe, não me ajuda a viver, só me traz dor e tristeza. Só me puxa para trás. Onde estão as pessoas e as coisas que fizeram parte do meu passado neste momento? No mínimo, longe. Mesmo que seja ao meu lado, mas longe do que eu sou. E tão longe quanto eu de quem eu sou. Assim como estou longe de você.

Queria uma véspera mais feliz.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Reflexos de uma vida...

http://www.youtube.com/watch?v=2LgrGHWSy6k

Live with me - Massive Attack

It don't matter, when you turn
Gonna survive, live and learn.
I've been thinking about you baby
By the light of dawn, and in my blues
Day and night, I been missing you

I've been thinking about you baby,
Almost makes me crazy,
Come and live with me

Either way, win or lose,
When you're born into trouble you live the blues

I've been thinking about you baby

See it almost makes me crazy child
Nothing's right if you ain't here
I'd give all that I have just to, keep you near
I wrote you a letter and tried to make it clear
That you just don't believe that, I'm sincere.

I've been thinking about you baby...

Plans and schemes, hopes and fears
Dreams i've denied for all these years

I've been thinking about you babe, living with me, well.....
I've been thinking about you baby, makes me wanna...child

Nothing's right, if you ain't here
I give all that I have just to keep you near
I wrote you a letter darlin', trying to make it clear
How much you just don't believe that I'm sincere.
Thinking about you baby, I want you near me...

domingo, 24 de outubro de 2010

Fui me sentar na varanda pra fumar um cigarro enquanto eu continuava a ler o livro que estou lendo e que começou a ficar bem pesado pra mim. Se fazia necessário um cigarro e a varanda, e eu fui. Quando me sentei, olhei para o prédio ao lado e vi um arco de balões rosa e lilás na entrada do salão de festas. Era uma festa de criança. Eu não penso em filhos quando estou com os meus amigos que têm filhos ou quando estou com os filhos dos meus amigos, mesmo quando seguro um neném no colo ou quando ela sorri pra mim porque ela parece gostar de mim. Não, eu não penso nisso. Eu me esqueço que estive grávida. Mas hoje, não sei por que, eu me lembrei.

Fiquei olhando os balões rosa e lilás, vi que pessoas se aproximavam do salão. Um garçom com uma bandeja, alguém com algo nos braços que parecia um presente (ou talvez fosse uma travessa com comida, um funcionário do buffet). Tocava uma música que eu não consegui identificar. Do lado do parquinho uma mulher dançava ao som daquela música, que eu incrivelmente continuei ouvindo sem saber qual era. Ela parecia estar dançando pra alguém, talvez uma das crianças da festa. Mais pessoas chegavam e eu larguei o livro. Precisava escrever e só poderia ser aqui.

Eu sei que sou uma pessoa de ficar pensando e remoendo o passado, mas engraçado que isso não é uma coisa que eu fico remoendo, nem me lembrando. Mas hoje eu lembrei. Fiquei grávida mais ou menos em abril e isso, pelos meus cálculos, me daria filhos sagitarianos ou capricornianos, que nasceriam em dezembro. Nesse ano eles estariam fazendo 2 anos. Nunca tinha parado pra pensar na carinha dos meus filhos que não tive. Engraçado que penso sempre em um menino e uma menina. Um menino com seus cilhos grandes e seus cabelos de cachinhos. Uma menininha emburradinha, mas encantadora (e modesta) como eu.

Pensei neles na festa de aniversário. Pensei neles pequenos, correndo pra lá e pra cá, perguntando coisas e fazendo gracinha pros convidados. Brincando com seus presentes (ou com o papel deles, caso fossem mais interessantes. eu adorava papéis de presente.), brincando no parquinho, subindo e descendo, no medo que isso me causaria e na possível felicidade que tudo isso poderia ter me causado também. E meu deu um vazio imenso que eu não vou conseguir explicar aqui em palavras.

É nessas horas assim que eu penso que sou louca. Que eu penso que nada faz sentido. Que nos poupamos de vida para não sofrer. Que nos antecipamos às coisas, que sofremos antes delas acontecerem e que fazemos de tudo para evitar o sofrimento. E mesmo assim, sofremos. Não há como evitar e a gente acha que tem o mínimo de controle sobre isso, mas não tem. Somos um bando de idiotas prepotentes diante da vida e do mundo, diante de coisas que não fazemos a mínima idéia do que significam e achamos que temos alguma pista. Vemos padrões em tudo. Vemos ordem onde só há caos. Vemos amor onde ele não existe e nem sabemos reconhecê-lo quando ele está estampado na nossa cara. Fugimos. Somos crianças assustadas que se tornam adultos assustados e velhos assustados. E morremos. Sem entender porra nenhuma do que tudo isso aqui significa.

Por que complicamos tanto as coisas? Por que pensamos tanto? Por que vivemos assim, desse modo estúpido e ainda sim achando que tudo está sob controle? E por que continuamos simplesmente vivendo, mesmo assim?

Estou oca por dentro agora. Ou sempre fui oca e não percebi. Ou percebi e tentei sempre preencher essa oquidão dentro de mim. Você provavelmente foi a minha maior tentativa.

Nesse momento eu penso que não quero filhos que não sejam seus. Eu não suportaria olhar pra uma criança e não te ver nela. Eu não quero que algo seja meu e que você não seja parte dele. É por isso que pra mim tem hora que é tão difícil viver.

Será que tudo faria mais sentido se a minha vida fosse ao seu lado? Porque toda vez que eu dormia e acordava e via você, eu realmente entendia que algo fazia sentido. Porque eu te amava e isso por si só me bastava, naquelas horas. Se eu pudesse voltar no tempo e pudesse guardar esse sentimento, seria esse que eu guardaria. E toda vez que eu me sentisse confusa, ou sozinha, ou insegura, eu abriria uma caixinha com isso e ficaria aliviada pra seguir em frente. Eu às vezes acordava de noite e olhava você dormindo. E isso me dava uma paz imensa (e muitas vezes raiva por não ter o sono maravilhoso que você tinha, ok.). Lembra que uma vez eu te escrevi enquanto você dormia?

"this night...
Meu lindo...

Nesse momento vc dorme e eu estou aqui. Sem angústias, sem temores... Só meio em estado de alfa, como vc diz. rs

Sinceramente não consegui dizer metade do q gostaria de dizer pra vc, mas queria q vc soubesse o quanto tem sido importante pra mim. Em todos os aspectos, absolutamente. Uma importância inédita. Insuportável, tem horas. Mas queria muito que soubesse disso. Se eu tivesse coragem de atrapalhar um sonho de um anjo, te acordaria pra te falar isso. rs

Amo vc, como nunca, de uma forma linda e incomensurável que eu tenho medo de sentir. rs (eu e o meu medo estúpido que sempre me vangloriei de não ter. rs ironia do destino. rs)


Beijos e bons sonhos,

da sua (e sempre sua) ..."


Hoje tenho quase 28 e continuo oca. Eu perdi meus filhos e me conforto com a idéia de que foi melhor assim. Mas nada faz mesmo sentido, com ou sem filhos, porque continuo com medo e sinto falta dessa época, quando eu tinha medo mas tinha você pra me dar sentido.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Retrogosto

E o gosto volta à boca (e à alma). O fantasma ressurge cada vez mais borrado e impregnado do que a minha mente consegue bordá-lo. Hoje é um emaranhado de retalhos que não se pode mais definir. Poderia ser qualquer outra pessoa. Poderia ter sido um amor qualquer, uma vida qualquer, uma história qualquer. Qualquer beijo, abraço, gozo, choro... Qualquer miséria, qualquer ausência ou fome, qualquer coisa que fosse doce e amarga ao mesmo tempo. O retrogosto. O gosto que volta, assim como um refluxo, um regurgito. A lembrança amarga na garganta do que um dia foi doce. A cheiura e o excesso de um momento que denotam a falta atual. Comeu, se lambuzou, até enjoou e agora, cheia de nada, volta. E já não lhe cabe mais. Mas a lembrança vem e, com ela, a falta. O nada que restou hoje se resume a golfadas de memórias perdidas entre outras memórias. O nada que um dia, oxalá, vira merda. Será?

Enquanto não, o gosto de uma saudade já azeda.

Vento

Venta por cá, como há muito não ventava. Ventam palavras nos meus ouvidos que correm pros meus dedos e viram letras numa tela de computador. Ventam sentimentos velhos disfarçados de novos, velhas manias com uma roupagem madura, querendo serem próprias dos meus 28 anos que se aproximam. Venta e, por incrível que pareça sinto, ao mesmo tempo, frio e um abafamento. Uma urgência toma conta do meu ser inerte, já tão acolhido nesse estado próprio de ficar simplesmente... parado. Uma urgência de correr com esse vento, de correr como ele assim livre, solto, fluido... Correr... Ventar... Fugir? Não. Seria mais... enfrentar. Ganhar a força de uma ventania, um vendaval. Um furacão que faça tudo se mover mas sem sair do lugar. Uma brisa transformadora, transcendente. Transcender... Talvez seja esse o verbo. É sim. É.

Transpor toda a mágoa, o ranço, o fel, o amargo e o fétido da vida pra buscar perfume, glória, bênção. De quem? Pra que? Da própria vida. Buscar uma vida. Viver uma vida que seja a minha, tomar as rédeas de algo que vive à deriva há anos, desde não sei quando... Desde sempre.

Acho que vai chover.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Feliz Aniversário...

Olá...

Um feliz aniversário pra você...

Acabei de lhe escrever um e-mail politicamente correto, curto (para os meus padrões) e com o suficiente para lhe dizer... Talvez não o suficiente para mim. Há meses que me consome essa ideia de ter que lhe escrever algo no seu aniversário e mais do que isso, me consome a idéia de que realmente eu não sei o que lhe dizer mesmo sendo essa uma oportunidade única de lhe dizer alguma coisa. Acho que isso já seria o bastante pra me causar essa pressão, essa obrigação de lhe dizer alguma coisa, principalmente não sabendo o que lhe dizer. Olha, hoje é dia 13 e eu já estou aqui perdendo o meu tempo escrevendo algo pro dia 17, quando é mesmo a data do seu aniversário. Então pense o que isso significa.

E sinceramente, acho que só saberei o que lhe dizer no dia 17 mesmo. Ou nem isso. É provável que eu nunca saiba o que lhe dizer nunca mais, assim como nunca soube. Assim como lhe disse o que não era pra ser dito, nem pensado, nem sentido. Mas senti, pensei e, o pior, disse. Coisas das quais me arrependo amargamente de terem tornado reais a partir da minha fala insana a seu respeito, quando o que eu mais queria era seguir ao seu lado e simplesmente suportar o fardo de ter um homem tão maravilhoso e perfeito, o que eu, claro, não soube fazer. E dói, ah, R... Como dói hoje não ter suportado o fardo pesado de um homem lindo (em todos os sentidos) ao meu lado, como ousei te ter se não tinha culhões para lhe sustentar. Exatamente essa é a minha dor e o meu arrependimento.

Então hoje, dias antes do seu aniversário de 25 anos, dias antes de você atingir um patamar tão importante como esse, cá estou aqui e você, aí. Cá estamos nós em mundos completamente diferentes e seguindo nossos caminhos, fingindo que cada um de nós dois nunca existiu para cada um. Eu, lutando bravamente para te manter em meio às minhas lembranças empoeiradas que se resumem hoje a músicas, algumas camisetas, filmes e pretensões de coisas que eu suponho que você gostaria. Você talvez lutando contra as mesmas memórias, mas ao contrário, para esquecê-las e continuar vivendo uma vida como se eu nunca tivesse feito parte dela.

Que você tenha um feliz aniversário e uma feliz vida. É o que lhe desejo, mesmo não sabendo bem o que isso significa.

domingo, 1 de agosto de 2010

Mais sobre uma vida que não é a minha

Eu agüentei uma noite inteira de Smiths. No epicentro da felicidade enlatada eu consegui agüentar a discografia inteira dos Smiths. Eu achei que estava segura no meio de todo mundo pronto, todos os casaizinhos pré-fabricados, modelos, casamentos perfeitos, mulheres de um homem só. Meninas para um lado, meninos para o outro. E meninas fumantes, onde ficam? Mulheres que acham que são meninas, que se escondem atrás de um cabelo loiro e um relógio da Diesel e que botam um sorriso no rosto enquanto os Smiths insistem em trazer um passado para aquele lugar que não lhe cabe... Pra onde é que elas vão? Pro inferno. Pra um inferno chamado Memória. Sim, é lá que elas se escondem. Ela. Todo seu lápis de olho, seu perfume comprado na Argentina, sua bolsa da Puma, sua escova no cabelo e seu piercing do nariz não são suficientes pra se impor em meio à felicidade enlatada. Não bastam pra que ela se contamine por aquilo tudo, pela perfeição fake dos casaizinhos perfeitos. Maridos que tomam vinho e arrotam arrogância em meio daquele monte de machos, muito machos, que se escondem atrás de sua taça e seu trabalho maçante e imbecil, mas muito bem remunerado, obrigado. Mulheres que fingem que bebem, bebericam espumantes enquanto conversam sobre filhos, falta de vontade de fazer sexo com os maridos mesmo sendo muito bem casadas e os amando muito, claro, e fantasias com estranhos inteligentes, bonitos e que lhes dão o mínimo de atenção. O reino perfeito da hipocrisia.

– Me conta como é...
– Como é o que?
– Você sabe, você é a única de nós que sabe...
– Sabe o que, meu Deus?
– Como é ter outro homem...
– Ah...

E no som começam uns acordes de guitarra familiares, de pouco tempo, mas que são suficientes pra destruir a máscara que ela custou a vestir pra poder estar a ali. “Good time for a change...” Socorro. Nem são os Smiths mais, eu venci a discografia inteira!... Onde diabos arrumaram uma versão dessa música... Socorro. A máscara cai antes da resposta da pergunta. É de papel, molhou com as lágrimas que insistem em brotar naquela simulação de paraíso. E se desfez...

– Ai, amiga... Ta chorando? Que foi?
– É a música.
– Que música é essa, gente, não sei quem ta cantando isso...
– Nem eu, sei que é uma música dos Smiths...
– Ai, amiga, não fica assim...

E o marido se aproxima.
– Amor, tomei sua água toda. Pega outra pra mim? (virando o rosto já borrado do lápis de olho que escorreu com as lágrimas vindas do inferno) E ele se afasta.

– Então, quer mesmo saber?
– O que, amiga?
– Como é?
– É o que?
– Ter tido outro homem...
– Ah...
– É assim.

sábado, 31 de julho de 2010

5 minutos

Tenho 5 minutos. Que podem ser 10 ou 15. Ou menos que 5.

Acabei de descobrir uma banda em meio às suas música (mas por que diabos eu insisto em me dirigir a você como se você me escutasse é que eu não entendo. talvez escute. dentro de mim tem você e esse você me escuta. sim, entendi.). Pois, a banda. É uma mistura de Radio Dept. com Nouvelle Vague e Velvet Underground, talvez. Eu e essa mania engraçada de ficar familiarizando coisas que eu desconheço. Buscando a familiaridade no não-visto. Conforto? É, acho que é. Mas a banda é legal. Você sempre ouviu coisas legais. Mais do que isso, você também sempre disse coisas muito legais em meio às bobagens que todos dizem. Era só saber ler nas entrelinhas. Só que fica difícil ler nas entrelinhas hipnotizado por cachinhos negros, olhos-mel-grandes-caídosnoscantos-e-cilhosgrandes e essa boca. Sabe o mais engraçado? Eu nem vi sua boca dessa vez. Só vi os olhos. E todo mundo olha pra sua boca e esquece dos olhos. Olha que todo mundo que te acha lindo fala só da sua boca, muitos falavam dos cachinhos também, mas te digo que ninguém nunca prestou atenção nesses olhos como eu.

Então, a banda chama The Wake. O cd que tem aqui é de 2002. Ouvindo mais músicas já consigo achar um pouco de Bishop Allen também e talvez até de Polyphonic Spree. E hoje eu penso no quanto perdi tempo ouvindo as mesmas coisas sendo que eu tinha um acervo inteiro seu aqui de coisas ótimas. Na verdade já parou pra pensar que o nosso acervo tem mesmo umas coisas ótimas? Tanto o seu como o meu quanto o nosso? Tem sim... Pena que eu não pensei no acervo quando te vi aquele dia. Eu perguntava as coisas por perguntar mas olhava fundo nos seus olhos e você, esfinge, tentando esconder eles de mim com medo de me entregar alguma coisa... Solidão? Saudade? Esquecimento? Tristeza? Vergonha? Te juro, não consegui te decifrar. Ainda vi você fantasma como nos últimos tempos. Doeu.......... Tanto. Você nem imagina. Pra não dizer que não percebi nada em você, eu te percebi lindo (como sempre) e com medo. Do que eu não sei. Julgo ser de mim antiga, do seu fantasma de mim (assim como você hoje é um fantasma pra mim, por que não eu ser um fantasma pra você?), medo de mim barraqueira, escandalosa, sangue de baixada, que não sabe perder... Medo de eu encher aquela menina do piercing de porrada e sangrar ela até a morte na frente do seu espetáculo todo, do seu espetáculo de todo domingo... Mas não. Se você também não soube ou não quis perceber nada em mim, eu estava como um bicho. Acuada, com medo. Uma criança com medo de um fantasma que a atormenta todos os dias. Com medo mas ainda com aquela curiosidade infantil de saber do que é feito o fantasma, se ele é feito da mesma matéria dos sonhos... E eu acho que foi isso o que descobri. Fantasmas e sonhos são feitos da mesma coisa. E existem (isso é o mais engraçado), e vivem, e andam, e comem, e bebem, e dirigem, e fodem, e sonham, e trabalham, dormem, acordam, etc etc etc... Mesmo que seja só na nossa cabeça.

Meus 5 minutos já são quase meia hora e quase um cd inteiro desses tais de The Wakes. Como tudo que tem aqui de música que eu herdei de você, parece uma trilha sonora do que você representa. Do que te torna fantasma pra mim. Sonho, blues, um pouco de eletrônico, uma voz feminina e uma masculina que se completam, um pedacinho de você aqui sentado comigo, me olhando, como você um dia costumou me olhar.

Fim do CD. Fim dos 5 minutos.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Socorro! Eu quero uma vida que não seja a minha!

Felicidade inventada em Paris. Inventada não, pronta. Enlatada, pré-fabricada, como tudo mais parece por aqui. "Oi, como você tá? Tá Paris? Tá bem. Tá ótima. Estar em Paris ajuda." Ah, ajuda. Ajuda pra todo mundo mas, infelizmente, eu não sou todo mundo. Quisera ser. Nem melhor, nem pior por isso. Só não sou. E estar em Paris não ajuda não. Só piora.

É como num filme. Tudo. As luzes, os cheiros, o clima, o tom, as músicas... Toca jazz num taxi, Velvet Underground no supermercado e olha, até La vie en rose eu já ouvi numa rua cheia de gente louca e bêbada, e na versão que eu queria. Toca Lily Allen num café ao lado do museu que desisti de entrar pela fila gigantesca. Café cheio de turistas, comida francesa pra turista, fila do museu ao lado, todo mundo fingindo estar gostando daquela porcaria, todos mortos de cansaço e comendo aquela comidinha mais ou menos, gordurosa, ou aquela porra de água salgada da torneira ou suco com gosto de pirulito ou vinho ruim - mas francês, oui - ou coca-cola pra quem tem peito de encarar coca-cola em Paris. E a Lily Allen tocando 22 no diabo do café. E a felicidade em conserva, pronta para consumo ali, diante de mim. E eu olhei pra tudo aquilo e me senti no filme certo mas com os personagens errados. E me senti extremamente só e idiota diante do mundo.

Quem sou eu, o que eu tô fazendo aqui, caralho. Eu não tenho mais 22 e não nasci pra consumir felicidade enlatada. Eu achava que a vida era isso aqui, que estar em Paris resolveria todos os problemas do mundo. E hoje eu vejo - com muito mais que 22 - que vida pra mim não é esse café, nem o museu, nem essas ruas e prédios lindos, nem nada disso. A vida era uma pousada em Tiradentes com vagões de trem e festival de cinema. Era pintar um apartamento, cansar num terço do caminho e chamar um pintor pra terminar. Era acabar de assistir Marley e Eu e ver dois bobos com os olhos inchados de tanto chorar rindo na frente do espelho do banheiro. Era um quarto cheio de roupas pelo chão, uma cama enorme, biscoito recheado e nescau, e um computador com uma playlist de dar inveja a meio mundo. Isso pra mim era vida e eu não posso nem dizer que não sabia. Só sei que Paris, mesmo entupida de anti-depressivo, não é vida pra mim.

Aí é o seguinte: ou eu encaro a felicidade pronta ou eu continuo vivendo como uma morta-viva, como tem sido isso que posso chamar de vida pós-vida. Sobrevida, que seja. Aí eu choro no café e peço desculpas depois, dizendo que o que me assusta e me faz chorar é não ter mais 22...

domingo, 13 de junho de 2010

Eu escuto nossas músicas, eu tento me lembrar de cada detalhe seu, eu me sinto triste... mas não choro mais. Será que minhas lágrimas secaram? Não, eu não deixei de te amar. Talvez o amor tenha mudado. Acho que agora é um amor conformado com o fim, com a distância e com a indiferença. Possível? Não sei. Sei que é assim que me sinto com relação a tudo isso. E afinal de contas... o que é tudo isso? O que é tudo? O que foi tudo?
Vez em quando me pego pensando se não foi tudo um sonho... Foram tantas coisas vividas, tantos momentos... agora reduzidos à isso: músicas, filmes, e-mails, fotos. Tudo representações de algo que não mais existe. Não da forma como existiu um dia. Existiu? Às vezes até isso eu me pergunto. Parece tudo tão próximo e tão distante ao mesmo tempo... É uma confusão de sentimentos e pensamentos e lembranças que fica difícil distinguir o que é cada coisa. E aí fica essa vontade de escrever, de fumar todos os cigarros, de beber todas as bebidas, de ouvir todas as músicas pra ver se você volta de alguma forma. Porque de alguma forma eu não quero esse afastamento. Eu te quero ainda perto de mim. Mesmo que seja assim, perto só do meu coração. Mesmo que seja só eu a te manter por perto. Quero você sentado aqui do meu lado, mesmo assim, em palavras. Mesmo te vendo sentado aqui pelas palavras. Quero te fazer presente na minha vida, independente de qualquer coisa. Ainda.
Outro dia mesmo ouvi essa música relendo seus e-mails, revendo suas fotos e chorei como nunca. Com uma dor no coração quase física. Quase não, física. Mesmo. E hoje eu escuto a música e não sinto mais o que senti. Ainda aperta a tristeza, mas de uma forma longínqua, miragem quase... chega a ser doce. Deve ser porque junto dessa tristeza tem um felicidade maior que ela. Uma felicidade minha, construída com cuidado, precisa. E você passou a ser impreciso, borrado, fantasma... Assim como essa música. Ela me desperta algo que eu não sei explicar. Mesmo que eu queira colocar aqui em palavras. Deve ser porque elas sempre serão poucas pra definir o sentido. Sempre poucas. Por mais que eu as busque. Assim como, por mais que eu te busque, sempre será pouco sem você presente na minha vida.
Eu me recuso a te esquecer. Até quando? Não sei.
Fico me perguntando o que acontece comigo quando eu me vejo reabrindo as feridas já cicatrizadas que você deixou no meu coração. Elas começam a fechar, pelo lado de fora aparentemente são só cicatrizes, mas parece que faço questão de, periodicamente, rasgá-las novamente. Talvez pela dor que me causam; talvez porque a dor me aproxima de você. Talvez - na verdade, muito provavelmente - seja o jeito que eu arrumei de não me esquecer de você e do que você significa pra mim. Agora eu me pergunto o que é que me prende à você além das lembranças... Porque eu não tenho mais nada. Nada mais que seja nosso a não ser isso: lembranças. E dói esquecer. Dói você acordar depois de um sonho em que você confunde rostos porque a memória já lhe falha. É dolorido você tentar refazer alguns detalhes de pequenas coisas - pequenas preciosidades - vividas, que você queria guardar no lugar mais querido e especial do seu coração e de repente já não se recordar mais de alguns deles. Ver as lembranças se esvaindo a cada dia, como areia numa ampulheta, te consome aos poucos, por mais que seja melhor assim pra continuar vivendo. Dói ir te substituindo por melhores coisas, mesmo que elas nem sejam na verdade melhores, porque no fundo, por pior que fosse o sofrimento que você teve um dia, você achou que aquelas seriam suas melhores lembranças. Mais do que isso: você quis, como nunca, que aquelas fossem suas melhores lembranças. Você quis insuportavelmente que aquilo fosse o melhor que você já viveu, sentiu... Você acreditou que aquilo seria único, especial e eterno. E é essa a constatação que dói mais. A do fim. E esquecer é um pouco isso. É se aproximar do fim, involuntariamente. E mesmo doendo, já dói menos. E talvez seja pior do que quando doía mais.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Estou feliz. Como há tempos não me sentia assim. Com isso espero um post mais doce, mais calmo e sereno. É tão estranho te amar assim... Sem possibilidades, sem o mínimo de alimento e com o máximo de esperança. Ora, não me pergunte do quê a esperança. De um dia deixar de te amar? De por acaso voltarmos a nos encontrar um dia e reacender em você a chama que em mim não se apagou? Ou simplesmente de canalizar todo esse amor pra mim mesma ou pra alguém que torne ele possível ao invés de inviável? Sinceramente, não sei. Sei que em mim existe hoje uma coisa chamada felicidade e ela veio gratuita. Você em nada colaborou nos últimos tempos para que ela brotasse aqui, mas... cá está! Insistente, vibrante, pura... Genuína. Cá está. Ora! Quem diria?! Eu, nunca. Achei que amargaria esse amor shakespeareano pelo resto dos meus dias, realmente amargurada. E cá estou. Quase 4 mil quilômetros de distância, 4 meses de silêncio e incontáveis tentativas de tirar sua presença invisível do meu ser e dos meus poros e então... a felicidade. E olha, isso não significa que eu não te ame mais. Ou que te ame menos. É só o tempo fazendo seu papel. O seu lugar continua aqui mas isso pra mim não é mais sinônimo de tristeza, mágoa e pesar. Você ainda é o que de mais bonito tive - e talvez sempre há de ser - até que minha memória me traia, até que eu esqueça quem você é assim como você parece fazer questão de esquecer o mesmo. O que, no fundo, não importa. Tirando o que você significa pra mim, me importa apenas a minha ilusão e desejo de você estar bem. Talvez tão bem quanto eu. Ou melhor. Mesmo no silêncio você ainda faz parte das minhas preces. Sim, eu ainda rezo. Sim, eu ainda acredito em Deus e em tudo aquilo que você também me dizia acreditar. Engraçado como você me ensinou tanto isso e parece ter esquecido os mesmos ensinamentos... Estranho como a vida dá esse tipo de volta, e outras mais. Curioso as voltas que ela dá. E cá estamos. Em pontos diferentes do mundo, ouvindo as mesmas músicas muitas vezes, convivendo com as mesmas pessoas que já fizeram parte da nossa história - outras novas -, construindo uma realidade nova e diferente a cada dia, esquecendo um pouco mais, lembrando um pouco menos. Cá estamos. Ainda sem nos esquecer em definitivo e cada um fazendo com suas lembranças aquilo que bem entendemos.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Escrevo pra mim. Foi-se a ilusão de que escrevia por você, ou por alguém. É por mim que escrevo.
Escrevo pra afastar a solidão, escrevo pra me sentir mais próxima - de ti ou de quem está longe, como estás-, escrevo. Escrevo por não haver outro modo, por não haver música ou filme que me aproximem de quem ou o que sinto falta. Escrevo.
Palavra feia, como todas as outras que aqui estão escritas, ou não... Escrevo. Como um pássaro sem rumo, paloma negra que sempre fui (Marcelo. Obrigada mais uma vez por me descrever. E escrever. Mesmo que não seja eu. Mesmo que seja você ou a solidão.). Escrevo...
Deixo reticências, para que elas mesmas se preencham com o vazio de sua falta ou da falta que quero que haja por você não estar aqui. Escrevo melhor bêbada, ou semi-bêbada, que seja, melhor que sóbria nas minhas mentiras e verdades. Melhor que na minha realidade.
Nas palavras sou mais bonita, sou maior e mais rica. Mais densa, profunda, que na vida. Sou o que há de melhor, assim como você, ateu, incrédulo, mesmo depois de tanta fé. Mesmo depois de tanta vida há a morte. Minha, sua, eterna e vazia. Que as palavras preenchem e eternizam.
Há o buraco que quero preencher. E só me restam as palavras agora. Now.
De você, só me resta o que eu quero e o que eu sei, mesmo que não saiba nada... Mesmo que só saiba o que sinto. Mesmo que você não saiba e não viva o que eu considero vida. Você vive. Assim como eu. Assim como as palavras. Vivemos uma vida que não é nossa. Vivemos uma realidade que não é a que sonhamos nem quisemos; somente uma realidade de vida vivida vazia. Mesmo que ela esteja preenchida de coisas, nomes, sons, amores, vergonhas, passos, tropeços. Esta não é a nossa vida. E nunca vai ser. Sem perguntas dessa vez, somente respostas. Afirmações. E reticências, como sempre. Esquivas. Esquinas. Um grito de um pássaro. Uma noite perdida, outra ganha. Nada em vão, tudo em nada. Uma vida vivida, outra vida. Outro dia. Outra morte. E escrevo.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Por que tem que ser assim?

Koop - Islands Blues

Hello my love
It's getting cold on this island
I'm sad alone
I'm so sad on my own
The truth is
We were much too young
Now I'm looking for you
Or anyone like you

We said goodbye
With the smile on our faces
Now you're alone
You're so sad on your own
The truth is
We run out of time
Now you’re looking for me
Or anyone like me

Hello my love
It's getting cold on this island
I'm sad alone
I'm so sad on my own
The truth is
We were much too young
Now I'm looking for you
Or anyone like you...

http://www.youtube.com/watch?v=qTTGX27fsA4

terça-feira, 18 de maio de 2010

As roupas pelo chão

ONTEM

Ela chega na casa dele e já começa a reclamar:

- Eu não entendo... Não sei como você consegue viver assim...
- Assim como? - ele diz.
- Desse jeito... Com essa bagunça... Vê só esse tanto de roupa espalhada pelo chão... Deus me livre!
- Amor, se você quer que eu cate a roupa, é só pedir... Não precisa falar desse jeito.
- É que eu não me conformo! Eu não fui criada assim, acho um absurdo... Tudo bem que você é homem e tal, mas eu não consigo entender... E o dia que você casar? E quando a gente casar? Eu vou ter que sair catando tudo pela casa? Não, não. Não é possível. Você tem que aprender a se virar sozinho... Não é porque você mora sozinho que as coisas têm que ficar desse jeito!!! Isso é um comportamento de menino! Menino é que deixa as coisas pelo chão.

Silêncio.

HOJE

Ela chega em casa. Olha ao redor...

- Gente, mas isso aqui tá um inferno! Olha só que bagunça... Detesto essa zona. Olha quanta roupa esp...

E se cala.
As roupas no chão são as dela. As dele já não estão lá.

Enquanto ela sorri, calada, cata suas roupas. Lágrimas descem pelo seu rosto. As lágrimas são de saudade. O sorriso é puro, simplesmente por constatar. Sim, a sabedoria também está em roupas pelo chão.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

És parte ainda do que me faz forte... Pra ser honesto, só um pouquinho infeliz.

Eu andei pensando... e sentindo... e olha, eu sinto muito. Sinto mesmo. Não por nós dois, não pelo que não tivemos e nem pelo que poderia ter sido... Eu sinto, simplesmente. E tenho uma novidade esses dias: não sinto mais como antes. Sinto agora sem aquele pesar e aquela dor. O vazio, o nada? Não, não sinto mais. Agora, a presença. Sinto que você ainda está aqui (e ainda vai estar) por muito tempo; talvez pra sempre. Sim, pra sempre. E eu não vou mais brigar por causa disso. Nem pra te esquecer, nem pra te deixar aqui. Apenas fique, se quiser. Mas saiba: já pode ficar. Tem a minha permissão. Tem todo o espaço que precisar. Até um certo conforto, quem sabe. Faça daqui a sua casa enquanto for... E quando não mais - e caso não mais - pode ir também. Entre e saia quando achar necessário, quando convier... As portas não têm mais chave. Faça daqui um correio, uma repartição pública, uma praça... Isso. Uma praça. Sem hora pra chegar ou sair, sem obrigação, apenas um lugar onde você pode estar. E vai estar enquanto for. Pra isso, o tempo não existe. Saiba apenas disso: você está. Os seus cabelos de cachos e seu sorriso largo, maior que o mundo (maior que o sol. rs), vão permanecer, sim. O seu corpo, todo decorado por mim, centímetro por centímetro, também. A textura da sua pele, o seu hálito doce doce doce, o seu choro, seus carinhos, nossos filmes e os que também não eram nossos, nossos sonhos, nossos pés roçando um no outro, nossas fantasias em pares, nossas brigas e pazes, a sua paz... tudo isso permanece aqui. Numa praça. A sua praça. O seu lugar que enquanto eu tentei preencher com o mundo inteiro, não consegui. Porque ele é seu. E um pouquinho meu também porque o aqui sou eu. Bem vindo à mim. Sinta-se em casa.

domingo, 2 de maio de 2010

Plágio...

Faço minha suas palavras, Marcelo... Te amo. Sempre.

Apenas sós

Não cobre.
Nada.
Nem olhar, nem palavras, nem gestos.
Não cobre ofensas.
Não existe mais nada a oferecer. Nem mesmo o nada.
Ele está repleto de vazios.
Nada vazio é muito só.
Cada um que viva em sua solidão, sem nada e sem vazios.
Apenas sós.

*texto por Marcelo Valadares.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Sai, tatuagem...

Olha... Eu tento. E te digo que tenho tentado como nunca, mas você não sai de mim. Sai, ok... Sai aos poucos e lentamente, como um farelo, um grão de areia de cada vez dessa alma enorme de mamute que eu tenho. Mas fica; um borrão, cada dia mais esfumaçado e estranho pra mim, mas fica. E eu quero que não fique mais. Quero que você vá. É como ouvi naquele curso que eu fiz: deixe ir... deixe ir... Eu quero deixar mas não vai, sabe... E eu não sei como fazer porque da minha alma de mamute você ocupa quase todo o espaço... e pesa ela nem sei como... de uma forma que não há como eu arrastar isso por muito tempo, entende? Tá pesado demais, eu tô com os braços exaustos de te segurar sem querer, com os pés cansados da mesma posição e com o coração de chumbo pra poder seguir adiante... E tem gente aqui pra entrar, já tinha gente lá quando você chegou e você acabou tomando todo o espaço com essa sua beleza! Ah, que beleza essa... Onde é que ela foi parar? O que houve com você? Com aquele você que eu conheci e amei? É só o borrão agora? Perguntas e mais perguntas, como em quase todo texto meu. E elas sempre são pra você ou por você, maldito. Eu quero esquecer, eu quero... eu tento... SOME DAQUI, INFERNO!!! Eu berro... mas você não sai, essa mancha na minha vida e na minha alma de mamute... É igual tatuagem de muito tempo... Toma sol, desbota, engorda, estica, emagrece, murcha, mas tá ali... quer tirar de todo jeito, até com a porra do laser mas o maldito resquício tá ali. Onde era preto se torna branco, mas o cacete do desenho não vai sair. Você sempre vai carregar aquela marca e vai saber do que se trata. Vai se lembrar de quando resolveu fazer, do significado que aquilo tinha pra você, da dor do fazer, do prazer de ver pronta, da cicatrização e da dor do pós-fazer, de ficar ótimo, do tempo ir passando e ela ir ficando ali, ficando e ficando, do sentido inicial você se lembrar bem mas não sentir mais igual e ainda sim gostar dela, de ir perdendo o sentido, de se sentir uma idiota, de já não se lembrar mais por que diabos resolveu colocar aquilo ali, de ter vontade de arrancar com a unha aquela merda, de se conformar que ela tá ali porque fez parte da sua vida e de um momento importante pra você, de ir mais uma vez deixando e deixando ela ali, até que se toma coragem de tirar com um laser ou cobrir com outra e de repente você perceber que nenhuma das duas opções vai realmente tirá-la dali. E então... É assim que se vive com isso? Toda hora vai ter um espelho pra você ver e lembrar. E se não for o espelho, é alguém: você tem tatuagem? o que é isso? que linda? ah, eu não teria coragem, etc. E se não for alguém vai ser você a lembrar, sem espelho e sem o outro, de si mesmo. Porque aquilo ali é só seu e de mais ninguém e vai te pertencer até a morte.

domingo, 28 de março de 2010

Não é porque dói que não é bonito. Nem que é mais ou menos sentido. Não é porque a dor é diferente que ela é maior ou menor. Só dói. E dói em ambos os lados, eu sei. Mas eu só sei da minha dor. E ela está aqui, doendo, doendo, doendo... E não pára. E não me deixa esquecer. Nem do quanto fui feliz, nem do quanto fui idiota, nem do quanto foi bom e ruim ao mesmo tempo. Mas foi vida. E vida não se esquece, não se apaga. Se vive. E dói. Ô, se dói. Mas também queima, arde, brilha de alegria e paixão, enche de felicidade e você, tem hora, parece que não vai aguentar. Mas aguenta. O doce e o amargo. A vida. Você aguenta. Só Deus sabe a que custo, a que preço, mas tá aí. E você aguenta. Mas eu não quero mais aguentar. Quero só viver... e pronto. Me ensina? Como você faz? Tem cartilha? Onde você comprou essa capa? Será que eu fico bem de capa? Porque a sua fica muito bem em você... Olha, eu quero te emprestar meus óculos. Você aceita? Será que você ficaria bem com eles? Não é por nada não, mas acho que ficaria melhor do que a capa... Depende do gosto de cada um. Depende do gosto que você quer que a sua vida tenha.

Dia primeiro

(quero voltar a ter esses olhos...)

Hoje o sol voltou a brilhar e eu acordei com o peito querendo florescer. Depois de muito, muito tempo em terra árida, seca, vazia e estéril... E sinceramente, eu não sei por que. Sei que a vida esta brotando novamente em mim; é mais um ano que começa, mais um momento de esperanças renovadas, mais uma vez... recomeçar. De onde, pra onde, não sei. Mas é um recomeço. Talvez pra dentro ao invés do de sempre, sempre pra fora. Talvez a força de Deus agindo na minha vida, como sempre agiu, mas só agora eu consigo ver sua ação... Acho que as lentes cinzas secaram e caíram. Um mundo colorido amanheceu hoje diante de mim. Mesmo com dor de estômago, mesmo com sinusite, mesmo com dor no peito ele floresce, algo brotou hoje no chão duro e seco da minha alma e esse algo é bom. Não sou Clarice, não sou Hesse. A vida é dura, é difícil sim, mas é linda também. Acho que basta levantar assim... e viver. Simples como acordar e dormir, como comer, ir ao banheiro, sorrir, chorar. Simples. A complexidade é a gente que dá às coisas, assim como a naturalidade. A gente vive, sim. A gente sobrevive. Mesmo à pior chuva, mesmo ao pior fracasso, à maior vergonha, a gente vive. E a noite pode custar a passar, mas uma hora ela vira dia. Todos os meus dias primeiro eram sempre dias de tristeza e escuridão. Esse é o meu primeiro dia primeiro feliz. O primeiro de muitos.