quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Me perdoa, meu amor. Ainda existe poesia em seus olhos... Em meio a tanto sofrimento, em meio a tantos sonhos despedaçados e solidão você ainda foi capaz de enxergar beleza no mundo. Me perdoa por ter te perdido. Me perdoa por ter me tornado o monstro que te afastou de mim. Me perdoa, pois só assim eu poderei me perdoar um dia. Perdoa esse corpo que foi se deformando, essa mente que foi se pervertendo e esses olhos que se cegaram de ciúme, insegurança e tristeza diante da vida e do amor que você me ofereceu. Perdoa esse medo que eu carrego há tantos anos, esse buraco enorme que vai me ruindo por dentro e me deixando oca, oca, oca... Perdoa a minha família, que eu permiti que fosse mais importante em vários momentos do que o amor que falava mais forte dentro de mim. Perdoa os dias de sol que perdemos e as noites de lua cheia, em meio a tantas discussões, lágrimas e palavras duras que nunca deveriam ter sido ditas. Perdoa todos os beijos que eu não te dei por bobagem e criancice. Perdoa tudo aquilo que te era querido e eu tirei de você ou destruí. Perdoa os anos que você perdeu ao lado de uma menina boba que não queria crescer. Os chiliques histéricos, as cenas de ciúme, as humilhações, as desconfianças, as mágoas, as fraquezas... Sei que eu te machuquei como ninguém, te ofendi como ninguém, te decepcionei como ninguém, mas também sei e garanto, que te amei como ninguém até hoje te amou. Perdoa... Sei que não tenho esse direito diante do mal que lhe causei, mas o perdão é um sentimento nobre e transcendente, até meio divino. E eu preciso desse sentimento pra viver. Perdoa você, porque eu não consigo me perdoar.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Só dói.

‎"- Por que é que você me pede tanta aspirina? (... )
- É para eu não me doer tanto!
- Você se dói?
- Eu me dôo o tempo todo
- Aonde?
- Dentro, não sei explicar."

Clarice Lispector, em A hora da estrela.

Véspera

Sentei-me aqui pra escrever sobre o que não cabe em mim. Hoje é o último dia de um ciclo que quero/tenho/vou deixar para trás. E que, ao mesmo tempo, insisto em não querer deixar partir. Hoje é a véspera de uma nova fase. Amanhã deixo de ser "aquela menina" para virar "aquela mulher". Já me chamaram outro dia de senhora, acredita? Me assustei, e detestei. É só a constatação de que não sou mais o que eu sempre até então acreditei ser: uma menina. Uma adolescente sonhadora, cheia de vida e de sonhos, de esperanças e temores. E agora, o que serei? Uma mulher? Isso rompe com tudo o que cri até aqui. De 27 para 28. Mais um ciclo de 7 anos, os tão temíveis 7 anos. Já não cabe mais nessa vida meus dramas infantis, minhas paixões platônicas, sonhar ouvindo música, esperar o príncipe encantado, conhecê-lo, perdê-lo... Cabe uma vida sem grandes expectativas. Cabe uma falta de significado e sentido sem precedentes, dignas de uma mulher, adulta. Não cabe mais não pensar no amanhã, não predizer o futuro, não criar metas e objetivos e não atingí-los. Cabe uma vida nesses 27 anos para trás, cabem várias e várias e várias... Mas é uma vida que não cabe mais nos 28. Estou de mudança e não sei por onde começar. Não sei mais o que guardar, se é que guardo. Às vezes acho que escondo de mim mesma e adoro esse sofrimento de cavar as coisas... De escavar. De escavucar. De desenterrar periodicamente o meu passado em meio a papéis, recibos, notas, cartões postais, adesivos, fotos... Foi isso o que me construiu até então. E isso não significa nada porque o passado não é nada. Só eu não me dou conta disso. Com o passado eu não faço nada. Ele não volta. Ele não se mexe, não me ajuda a viver, só me traz dor e tristeza. Só me puxa para trás. Onde estão as pessoas e as coisas que fizeram parte do meu passado neste momento? No mínimo, longe. Mesmo que seja ao meu lado, mas longe do que eu sou. E tão longe quanto eu de quem eu sou. Assim como estou longe de você.

Queria uma véspera mais feliz.