terça-feira, 26 de outubro de 2010

Reflexos de uma vida...

http://www.youtube.com/watch?v=2LgrGHWSy6k

Live with me - Massive Attack

It don't matter, when you turn
Gonna survive, live and learn.
I've been thinking about you baby
By the light of dawn, and in my blues
Day and night, I been missing you

I've been thinking about you baby,
Almost makes me crazy,
Come and live with me

Either way, win or lose,
When you're born into trouble you live the blues

I've been thinking about you baby

See it almost makes me crazy child
Nothing's right if you ain't here
I'd give all that I have just to, keep you near
I wrote you a letter and tried to make it clear
That you just don't believe that, I'm sincere.

I've been thinking about you baby...

Plans and schemes, hopes and fears
Dreams i've denied for all these years

I've been thinking about you babe, living with me, well.....
I've been thinking about you baby, makes me wanna...child

Nothing's right, if you ain't here
I give all that I have just to keep you near
I wrote you a letter darlin', trying to make it clear
How much you just don't believe that I'm sincere.
Thinking about you baby, I want you near me...

domingo, 24 de outubro de 2010

Fui me sentar na varanda pra fumar um cigarro enquanto eu continuava a ler o livro que estou lendo e que começou a ficar bem pesado pra mim. Se fazia necessário um cigarro e a varanda, e eu fui. Quando me sentei, olhei para o prédio ao lado e vi um arco de balões rosa e lilás na entrada do salão de festas. Era uma festa de criança. Eu não penso em filhos quando estou com os meus amigos que têm filhos ou quando estou com os filhos dos meus amigos, mesmo quando seguro um neném no colo ou quando ela sorri pra mim porque ela parece gostar de mim. Não, eu não penso nisso. Eu me esqueço que estive grávida. Mas hoje, não sei por que, eu me lembrei.

Fiquei olhando os balões rosa e lilás, vi que pessoas se aproximavam do salão. Um garçom com uma bandeja, alguém com algo nos braços que parecia um presente (ou talvez fosse uma travessa com comida, um funcionário do buffet). Tocava uma música que eu não consegui identificar. Do lado do parquinho uma mulher dançava ao som daquela música, que eu incrivelmente continuei ouvindo sem saber qual era. Ela parecia estar dançando pra alguém, talvez uma das crianças da festa. Mais pessoas chegavam e eu larguei o livro. Precisava escrever e só poderia ser aqui.

Eu sei que sou uma pessoa de ficar pensando e remoendo o passado, mas engraçado que isso não é uma coisa que eu fico remoendo, nem me lembrando. Mas hoje eu lembrei. Fiquei grávida mais ou menos em abril e isso, pelos meus cálculos, me daria filhos sagitarianos ou capricornianos, que nasceriam em dezembro. Nesse ano eles estariam fazendo 2 anos. Nunca tinha parado pra pensar na carinha dos meus filhos que não tive. Engraçado que penso sempre em um menino e uma menina. Um menino com seus cilhos grandes e seus cabelos de cachinhos. Uma menininha emburradinha, mas encantadora (e modesta) como eu.

Pensei neles na festa de aniversário. Pensei neles pequenos, correndo pra lá e pra cá, perguntando coisas e fazendo gracinha pros convidados. Brincando com seus presentes (ou com o papel deles, caso fossem mais interessantes. eu adorava papéis de presente.), brincando no parquinho, subindo e descendo, no medo que isso me causaria e na possível felicidade que tudo isso poderia ter me causado também. E meu deu um vazio imenso que eu não vou conseguir explicar aqui em palavras.

É nessas horas assim que eu penso que sou louca. Que eu penso que nada faz sentido. Que nos poupamos de vida para não sofrer. Que nos antecipamos às coisas, que sofremos antes delas acontecerem e que fazemos de tudo para evitar o sofrimento. E mesmo assim, sofremos. Não há como evitar e a gente acha que tem o mínimo de controle sobre isso, mas não tem. Somos um bando de idiotas prepotentes diante da vida e do mundo, diante de coisas que não fazemos a mínima idéia do que significam e achamos que temos alguma pista. Vemos padrões em tudo. Vemos ordem onde só há caos. Vemos amor onde ele não existe e nem sabemos reconhecê-lo quando ele está estampado na nossa cara. Fugimos. Somos crianças assustadas que se tornam adultos assustados e velhos assustados. E morremos. Sem entender porra nenhuma do que tudo isso aqui significa.

Por que complicamos tanto as coisas? Por que pensamos tanto? Por que vivemos assim, desse modo estúpido e ainda sim achando que tudo está sob controle? E por que continuamos simplesmente vivendo, mesmo assim?

Estou oca por dentro agora. Ou sempre fui oca e não percebi. Ou percebi e tentei sempre preencher essa oquidão dentro de mim. Você provavelmente foi a minha maior tentativa.

Nesse momento eu penso que não quero filhos que não sejam seus. Eu não suportaria olhar pra uma criança e não te ver nela. Eu não quero que algo seja meu e que você não seja parte dele. É por isso que pra mim tem hora que é tão difícil viver.

Será que tudo faria mais sentido se a minha vida fosse ao seu lado? Porque toda vez que eu dormia e acordava e via você, eu realmente entendia que algo fazia sentido. Porque eu te amava e isso por si só me bastava, naquelas horas. Se eu pudesse voltar no tempo e pudesse guardar esse sentimento, seria esse que eu guardaria. E toda vez que eu me sentisse confusa, ou sozinha, ou insegura, eu abriria uma caixinha com isso e ficaria aliviada pra seguir em frente. Eu às vezes acordava de noite e olhava você dormindo. E isso me dava uma paz imensa (e muitas vezes raiva por não ter o sono maravilhoso que você tinha, ok.). Lembra que uma vez eu te escrevi enquanto você dormia?

"this night...
Meu lindo...

Nesse momento vc dorme e eu estou aqui. Sem angústias, sem temores... Só meio em estado de alfa, como vc diz. rs

Sinceramente não consegui dizer metade do q gostaria de dizer pra vc, mas queria q vc soubesse o quanto tem sido importante pra mim. Em todos os aspectos, absolutamente. Uma importância inédita. Insuportável, tem horas. Mas queria muito que soubesse disso. Se eu tivesse coragem de atrapalhar um sonho de um anjo, te acordaria pra te falar isso. rs

Amo vc, como nunca, de uma forma linda e incomensurável que eu tenho medo de sentir. rs (eu e o meu medo estúpido que sempre me vangloriei de não ter. rs ironia do destino. rs)


Beijos e bons sonhos,

da sua (e sempre sua) ..."


Hoje tenho quase 28 e continuo oca. Eu perdi meus filhos e me conforto com a idéia de que foi melhor assim. Mas nada faz mesmo sentido, com ou sem filhos, porque continuo com medo e sinto falta dessa época, quando eu tinha medo mas tinha você pra me dar sentido.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Retrogosto

E o gosto volta à boca (e à alma). O fantasma ressurge cada vez mais borrado e impregnado do que a minha mente consegue bordá-lo. Hoje é um emaranhado de retalhos que não se pode mais definir. Poderia ser qualquer outra pessoa. Poderia ter sido um amor qualquer, uma vida qualquer, uma história qualquer. Qualquer beijo, abraço, gozo, choro... Qualquer miséria, qualquer ausência ou fome, qualquer coisa que fosse doce e amarga ao mesmo tempo. O retrogosto. O gosto que volta, assim como um refluxo, um regurgito. A lembrança amarga na garganta do que um dia foi doce. A cheiura e o excesso de um momento que denotam a falta atual. Comeu, se lambuzou, até enjoou e agora, cheia de nada, volta. E já não lhe cabe mais. Mas a lembrança vem e, com ela, a falta. O nada que restou hoje se resume a golfadas de memórias perdidas entre outras memórias. O nada que um dia, oxalá, vira merda. Será?

Enquanto não, o gosto de uma saudade já azeda.

Vento

Venta por cá, como há muito não ventava. Ventam palavras nos meus ouvidos que correm pros meus dedos e viram letras numa tela de computador. Ventam sentimentos velhos disfarçados de novos, velhas manias com uma roupagem madura, querendo serem próprias dos meus 28 anos que se aproximam. Venta e, por incrível que pareça sinto, ao mesmo tempo, frio e um abafamento. Uma urgência toma conta do meu ser inerte, já tão acolhido nesse estado próprio de ficar simplesmente... parado. Uma urgência de correr com esse vento, de correr como ele assim livre, solto, fluido... Correr... Ventar... Fugir? Não. Seria mais... enfrentar. Ganhar a força de uma ventania, um vendaval. Um furacão que faça tudo se mover mas sem sair do lugar. Uma brisa transformadora, transcendente. Transcender... Talvez seja esse o verbo. É sim. É.

Transpor toda a mágoa, o ranço, o fel, o amargo e o fétido da vida pra buscar perfume, glória, bênção. De quem? Pra que? Da própria vida. Buscar uma vida. Viver uma vida que seja a minha, tomar as rédeas de algo que vive à deriva há anos, desde não sei quando... Desde sempre.

Acho que vai chover.