segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Retrogosto

E o gosto volta à boca (e à alma). O fantasma ressurge cada vez mais borrado e impregnado do que a minha mente consegue bordá-lo. Hoje é um emaranhado de retalhos que não se pode mais definir. Poderia ser qualquer outra pessoa. Poderia ter sido um amor qualquer, uma vida qualquer, uma história qualquer. Qualquer beijo, abraço, gozo, choro... Qualquer miséria, qualquer ausência ou fome, qualquer coisa que fosse doce e amarga ao mesmo tempo. O retrogosto. O gosto que volta, assim como um refluxo, um regurgito. A lembrança amarga na garganta do que um dia foi doce. A cheiura e o excesso de um momento que denotam a falta atual. Comeu, se lambuzou, até enjoou e agora, cheia de nada, volta. E já não lhe cabe mais. Mas a lembrança vem e, com ela, a falta. O nada que restou hoje se resume a golfadas de memórias perdidas entre outras memórias. O nada que um dia, oxalá, vira merda. Será?

Enquanto não, o gosto de uma saudade já azeda.

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