terça-feira, 2 de novembro de 2010

Véspera

Sentei-me aqui pra escrever sobre o que não cabe em mim. Hoje é o último dia de um ciclo que quero/tenho/vou deixar para trás. E que, ao mesmo tempo, insisto em não querer deixar partir. Hoje é a véspera de uma nova fase. Amanhã deixo de ser "aquela menina" para virar "aquela mulher". Já me chamaram outro dia de senhora, acredita? Me assustei, e detestei. É só a constatação de que não sou mais o que eu sempre até então acreditei ser: uma menina. Uma adolescente sonhadora, cheia de vida e de sonhos, de esperanças e temores. E agora, o que serei? Uma mulher? Isso rompe com tudo o que cri até aqui. De 27 para 28. Mais um ciclo de 7 anos, os tão temíveis 7 anos. Já não cabe mais nessa vida meus dramas infantis, minhas paixões platônicas, sonhar ouvindo música, esperar o príncipe encantado, conhecê-lo, perdê-lo... Cabe uma vida sem grandes expectativas. Cabe uma falta de significado e sentido sem precedentes, dignas de uma mulher, adulta. Não cabe mais não pensar no amanhã, não predizer o futuro, não criar metas e objetivos e não atingí-los. Cabe uma vida nesses 27 anos para trás, cabem várias e várias e várias... Mas é uma vida que não cabe mais nos 28. Estou de mudança e não sei por onde começar. Não sei mais o que guardar, se é que guardo. Às vezes acho que escondo de mim mesma e adoro esse sofrimento de cavar as coisas... De escavar. De escavucar. De desenterrar periodicamente o meu passado em meio a papéis, recibos, notas, cartões postais, adesivos, fotos... Foi isso o que me construiu até então. E isso não significa nada porque o passado não é nada. Só eu não me dou conta disso. Com o passado eu não faço nada. Ele não volta. Ele não se mexe, não me ajuda a viver, só me traz dor e tristeza. Só me puxa para trás. Onde estão as pessoas e as coisas que fizeram parte do meu passado neste momento? No mínimo, longe. Mesmo que seja ao meu lado, mas longe do que eu sou. E tão longe quanto eu de quem eu sou. Assim como estou longe de você.

Queria uma véspera mais feliz.

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