Eu me coço pra saber aonde você está, o que está fazendo, o que está pensando, se está dormindo, comendo, sonhando, fudendo ou simplesmente pensando, como eu, porque diabos eu ainda não te esqueci mesmo querendo esquecer e mesmo já tendo esquecido um monte já do que era pra lembrar, mas me agarrando ao osso como se só isso tivesse importância para o que eu sou. Como se só isso fizesse parte de mim, de verdade, de mim de verdade, do que eu sou de verdade, no fundo, não no raso. Porque no raso eu já te esqueci, eu tenho uma vida linda, graças a Deus, um marido perfeito, um apartamento perfeito, uma vida perfeita e gracinha, enlatada como uma sopa Campbell's, tão artificial como uma. No raso eu me fantasio de fancha modernosa, pinto o cabelo de loiro, pulo na boate enchendo a cara de vodka importada no meio de um monte de pirralho que nem me conhece e nem sabe nada da minha vida. E o mais engraçado nem é isso. O mais engraçado tá mesmo no fundo.
Porque no fundo o que eu queria mesmo era ter uma casinha com a nossa camona, trabalhar pra pagar as contas com você, comprar o nosso carro, fazer as nossas viagens, mesmo que pra fazenda da amiga, mesmo que pro apartamento de praia do tio, mas nossas, tudo nosso. Nossos sonhos, nossas brigas, nossas pazes, nossos gritos, nossos risos, nossas coisas, nossas músicas, nossos filmes, nossos filhos, nossa maturidade, nossa velhice. Nosso amor.
É uma pena que, no fundo, você, eu e todo mundo viva só no raso. Só no raso...
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