terça-feira, 28 de junho de 2011

Traças que somos

Eu me sinto como aquela traça na parede, carregando uma couraça, uma casa, uma vida. E tão pequena perto do tanto que carrega. Tem horas, parece, vai despencar parede abaixo pra, então, começar tudo outra vez. Como ela consegue? Deve ser um peso insuportável carregar aquilo pra cima e pra baixo, aquele peso todo... E lá vai ela. Pra onde? Não sei. Nem pra onde eu vou com isso tudo que carrego. Só sei que, como ela, eu vou. Numa dificuldade imensa, e solitária ainda, o que é pior. Não que não existam outras traças como ela. Mas agora e sempre, o peso que ela carrega é só dela. E de mais nenhuma traça. Praticamente ela dá um passo e volta dois, coitada. Aí pára, parece analisar o que está fazendo, qual caminho seguir, e continua. Um passo acima, dois abaixo. Se estica quase toda pra fora daquilo e volta pra dentro, como numa concha. Sinto vontade de ajudá-la mas... como? Não sei pra onde ela vai, o que ela quer, o por quê de subir a parede... Não tenho como. Só posso observá-la e torcer para ela chegar aonde quer, seja lá onde for. Apago a luz e volto pro quarto, carregando a minha carapaça enorme, cheia e pesada. Um passo pra frente, dois pra trás.

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